Empregado, empreendedor ou empresário
Um bom emprego é um sonho acalentado pela maior parte dos jovens brasileiros: aquela colocação em uma empresa reconhecida, numa função definida, com oportunidades de crescimento e salário garantido no final do mês. Ainda é forte a lembrança, em muitos de nós adultos, da estabilidade do emprego de nossos pais, que permitiu criar uma família e subir o padrão de vida.
A lógica que sustentou essa visão é a relação empregador–empregado, com nuances de paternalismo, responsabilidades limitadas e até de servilismo, numa simbiose convenientemente assimilada. Embora os novos paradigmas sociais questionem essa dependência, fatores culturais no povo brasileiro favorecem a continuidade dessa relação do “funcionário da caixinha tal”. Contudo, o desemprego crônico e crescente nas estatísticas formais e informais, seja pela depressão da economia nacional ou pelo fenômeno da nova economia mundial, tem ameaçado seriamente esse sonho.
Alternativamente temos a figura do empreendedor, como aquele que manifesta um estilo mais independente de realizar. Sua característica marcante é a capacidade de executar, de transformar uma idéia em realidade, de cumprir objetivos movido pela força interior de fazer acontecer. Enquanto a mentalidade do empregado é cumprir ordens, trocar trabalho por salário com a menor perturbação possível, o empreendedor vive criando problemas para si, na forma de desafios contínuos para alcançar objetivos. Diante da necessidade ou da oportunidade, enxerga uma solução e se lança com afinco até vê-la implantada. Por isso muitos empreendedores não sossegam enquanto não começam seu próprio negócio, e nesse sentido o Brasil tem se destacado no cenário mundial de empreendedorismo.
Muitos livros têm sido escritos e cursos oferecidos para estimular e apoiar os que são ou querem ser empreendedores do seu próprio negócio, pois muitos começam e fracassam, ou nunca chegam onde queriam. Outros vão ser empreendedores em seus empregos em empresas modernas, onde podem canalizar sua energia realizadora e serem recompensados, sem os riscos pessoais de ir ao mercado. Infelizmente ainda há poucos recursos para formar empreendedores que entendam e pratiquem a equação do negócio:
- identificar necessidades ou desejos como oportunidade de gerar valor para alguém (estratégia)
- estruturar-se para realizar esse valor de forma economicamente consistente (operação)
- assegurar meios de aprender a potencializar a geração de valor, maximizando resultados (gestão)
Em suma, negócio que prospera é o que continuamente amplia sua capacidade de gerar valor e atrair valor: soluções reais, conhecimento relevante, clientes, talentos, desenvolvimento pessoal e profissional, capital, lucro. Assim, empreendedor pode não ser suficiente, daí vem o “empresário”. Não estou usando essas palavras com pureza semântica, porém me atenho ao conceito prevalecente no contexto de negócios.
“Empresariar” aqui não implica ter as melhores idéias nem ser capaz da melhor realização, porém saber reconhecer o que tem potencial de gerar valor e atrair valor para viabilizar e fazer crescer um negócio. Para tanto, terá que contar normalmente com vários ou muitos empreendedores conectados pela idéia do negócio que ele lidera, numa relação de interdependência onde cada profissional ou empresa representada contribuem para fazer o bolo crescer na expectativa de comer uma fatia maior. Isso não é apenas um viés cultural, ou um estilo pessoal de realizar, mas tem algo de vocação, talvez o “tino para negócio”.
Já vi um vendedor de côco na praia começar com um quiosque e, depois de alguns anos, estar supervisionando três com seu carro novo, todos com grande movimento de clientes servidos por funcionários empreendedores e satisfeitos. Provavelmente todos nós conhecemos exemplos desse tipo, simples ou mais sofisticados.
A seguir, vou arriscar dar um conselho baseado também na minha experiência. Primeiro tenha certeza de que você não prefere mesmo ser empregado. Sei que muitas vezes não há mais essa opção, mas se for o caso, resolva interiormente sua necessidade de depender de um patrão e de uma estrutura. Se você se acha um empreendedor e com vontade de ter clientes, procure entender e exercitar a equação do negócio, até que seja capaz de convencer pessoas diferentes de você e seu cônjuge de que ela é viável. Finalmente, descubra o quanto antes se você tem perfil de empresário para implantar seu projeto e fazê-lo crescer na velocidade necessária ou compatível com o seu potencial.
Caso contrário, vá atrás de um que alavanque sobre o seu empreendedorismo e multiplique os ganhos para todos. E se você não achá-lo ou não conseguir convencer alguém, talvez você não esteja pronto para ir ao mercado. E se por acaso você for alguém com perfil de empresário, provavelmente já vai estar pensando em um ou mais empreendedores que podem lhe ajudar a montar um negócio interessante...
*** Texto retirado do site
www.hsm.com.br
Autor: Rinaldi Jr., Roberto
Sócio-diretor da ProBusiness, consultoria para transformação organizacional e gestão, em São Paulo.
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